Antropofagia, incisões corporais, terra sem mal: os mortos e a territorialidade tupi nos séculos XVI e XVII

Autores

  • Renato Cymbalista Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.24220/2318-0919v0n13a146

Palavras-chave:

América Portuguesa, Colonização, História do Território, Jesuítas, Tupi

Resumo

O processo de ocupação do território americano pelos europeus, nos séculos XVI e XVII, significou não apenas a submissão ou a expulsão dos índios, mas também a destruição  de formas especificas de territorialização, incompatíveis com a empresa colonial. Este texto busca contribuir para a compreensão de como os índios tupi da costa brasileira construíam uma ideia de território, em termos muito diferentes daqueles operados pelos europeus. O foco específico são as formas de relacionamento entre os vivos e os mortos, que o texto defende ser uma chave de explicação eficaz para compreender aspectos da territorialidade dos índios. Utiliza-se de fontes do inicio da Idade Moderna, que mostram uma mentalidade européia profundamente marcada pela religiosidade, que identificava, na cultura dos índios, elementos que por vezes os olhos contemporâneos captam com mais dificuldade. As relações entre vivos e mortos são investigadas no texto a partir de três elementos inter-relacionados: as migrações em busca da imortalidade, a antropofagia e as incisões corporais que registravam os guerreiros mortos em combate.

 

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Biografia do Autor

Renato Cymbalista, Universidade de São Paulo

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Publicado

2011-07-10

Como Citar

Cymbalista, R. (2011). Antropofagia, incisões corporais, terra sem mal: os mortos e a territorialidade tupi nos séculos XVI e XVII. Oculum Ensaios, (13), 132–152. https://doi.org/10.24220/2318-0919v0n13a146

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa